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PEQUENA COREOGRAFIA DO ADEUS: CARTA À ALINE BEI

Querida Aline Bei,

Hoje mais do que nunca tenho certeza da grande escritora que você é, sua nova obra, PEQUENA COREOGRAFIA DO ADEUS (2021), é a confirmação daquilo que já sabia e não estou sozinho nessa constatação, quem teve o prazer de ler seu livro O peso do pássaro morto (2017) já sentiu que estava diante de uma grande escritora. Parabéns pelo lindo livro em todos os aspectos: arte gráfica, opção da estrutura, capa, narrativa e, além disso, seu estilo, que é admirável pois com ele você dita o ritmo de nossa leitura. E, porque sabemos que nos encontramos com uma grande escritora? Como você mesmo escreveu, referindo-se a arte do ballet, “só é artista quem entrega a expressão aos pés do público com ritmo, poesia, beleza ainda que esteja dançando um crime”, da mesma forma, como escrever é uma arte, isso também é real para os escritores, assim é possível ver em seus livros o ritmo, a poesia e a beleza de suas palavras dançando diante de nossos olhos, produzindo uma leveza e uma graça incrível mesmo narrando as dores do abandono.


Tenho certeza, Aline, que ler não é buscar significado disso ou daquilo na produção escrita, como salienta Deleuze e Guattari, “ler um texto nunca é um exercício erudito à procura dos significados, e ainda menos um exercício altamente textual em busca de um significante, mas é um uso produtivo da máquina literária”, é um experimentar, sentir, se deixar ser conduzido e ser afetado pela narrativa. E saiba que você faz isso com uma incrível habilidade nos proporcionando uma experiência inimaginável, pois existe em sua escrita um magnetismo que nos prende ao livro, à história, aos dramas descritos com precisão, intensidade e economia de palavras, por isso, confesso que não consegui abandonar o seu livro enquanto não conclui toda a trama da Júlia Terra. E posso lhe dizer que sua companhia é sempre muito adorável. Somos atravessados por suas palavras, sentindo todas as situações dramáticas ou cômicas, de alegria ou de tristeza, dos seus personagens. Você faz seu leitor viver as vidas criadas por você, tornando verdade a sentença de Júlia para o boxeador: “Ler é viver muitas vidas além da sua”. Muito obrigado.


Mas, não fica só nisso, o título do seu livro é expressivo, pois realmente a vida é marcada por pequenas coreografias de adeus, nada é para sempre, claro que alguns podem dizer que também antes do adeus, a vida tem as coreografias dos encontros, mas sua constatação é muito pertinente, pois estes encontros não são para sempre. Num dado momento da existência teremos que dizer adeus (à infância, ao período da escola e universidade, da casa paterna/materna, dos amigos e dos amores, etc.). A finitude da e na vida é marca indiscutível, nascemos com prazo de validade, ninguém é eterno, apesar do nosso desejo de infinitude.


Adorei suas ponderações sobre a distância e o estranho, realmente só o próximo e conhecido produz peso e dor, pois “os estranhos não nos doem porque ainda não nos decepcionaram e se mantivermos tudo a uma boa distância: seguirão sendo essa doce incógnita”, o problema é que não podemos viver desta forma, temos vontade de conhecer e de nos aproximar do outro, será que este é o nosso mal? E a distância e o desconhecimento da vida alheia podem nos conduzir a ilusão que exista vidas que não conhecem ou não fazem ideia do significado do abandono. Acho difícil ter alguém no mundo que não conheça a experiência do abandono, evidente que a intensidade e frequência dessas experiências são singulares, mas, em certa medida, todos os humanos já sentiram na pele o que significa a palavra abandono.

Novamente Aline, parabéns e muito obrigado por essa encantadora oportunidade de ler sua

criação, ficarei esperando sua próxima obra.


Bacabal - MA, 26 de junho de 2021.


Clever Luiz Fernandes.


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Onde encontro o livro?

Você pode comprar pelo site da editora Companhia das Letras, através do link: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=14903

Boa leitura!







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