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PENSAR É UM ATO CRIATIVO

Por Clever Fernandes e Nertan Dias Silva Maia


A tese deleuziana que afirma o pensar como um ato criativo confronta duas posturas tradicionais na História da Filosofia Ocidental, por um lado, nega a ideia do pensar como coisa natural (platonismo) e, por outro, recusa o pensar como produto de um método (cartesianismo). Não pensamos num ato voluntário e natural, pois o pensamento em suas três formas - artística, científica e filosófica - é fruto de uma violência, uma curiosidade, ou uma afecção. Por isso, nos fala Deleuze: “O ato de pensar não decorre de uma simples possibilidade natural; ele é, ao contrário, a única criação verdadeira. A criação é a gênese do ato de pensar no próprio pensamento”(DELEUZE, Proust e os signos, 1987, p.96).

A imagem do pensamento surge não de uma verdade incondicionada, mas da relação de forças externas que retiram o pensamento de sua imobilidade, de seu estupor, de sua carência sensível. Estas forças e violências são responsáveis pelo movimento do pensar em si mesmo, e só a partir destes encontros, pelas intercessões do vivente com os signos, é que temos o pensamento em ação. É como se uma mão se encontrasse com outra, num desejo de tocar e compreender, analisar, explicar, segurar. Nessa conexão aproximamos mundos. Todo ato de compreender e aprender é uma interpretação de signos. Como salienta Deleuze, “pensar é sempre interpretar, isto é, explicar, desenvolver, decifrar, traduzir um signo”. Por isso, são os signos que nos impelem a pensar, a sentir o pensamento. São eles os objetos dos encontros; e são as contingências desses encontros que garantem a necessidade do pensamento, do ato de pensar como um ato criativo e sensível. Só se pensa a partir de uma provocação de um signo, sem a qual não existe pensamento. O pensamento é fruto de uma violência e, no seu livro mais importante Diferença e Repetição, Gilles Deleuze afirmou que “todo pensamento torna-se uma agressão” (DELEUZE, Diferença e Repetição, 2006, p.17). Tem-se assim, um movimento de mão dupla: o pensamento é fruto de uma agressão e torna-se depois ele mesmo uma agressão. O pensamento sempre será uma aflição. Por isso, Nietzsche afirma que arte e filosofia só são legítimas quando afligem. Nesse sentido, o pensamento é produto desse afligir externo e, ao mesmo tempo, produz pensamento, seja por ato criativo da arte, da invenção das explicações científicas ou das produções conceituais da filosofia.

Assim, na visão deleuziana, a criação como gênese desse ato é tudo aquilo que violenta o pensamento, que o mobiliza, que o retira de sua parcialidade abstrata, e, finalmente, o instiga a decifrar, interpretar e traduzir os signos.

Como fruto dessa ação externa ao pensamento, o Pensar é um ato criativo que nos leva sempre, invariavelmente, a encontros, sendo ele primeiramente possível apenas porque sofreu um encontro… Sem encontros não existe pensamento, só é possível pensar e criar a partir deles. Nós mesmos somos frutos dos múltiplos encontros vividos e sofridos na vida, por isso, viva os encontros! Eu acredito em encontros… Existe uma intrigante filosofia do encontro produzido por Deleuze a partir de sua leitura da filosofia de Espinosa.



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