Fragmento de uma aula sobre Maquiavel.
No capítulo XIV, Maquiavel nos ensina que o Príncipe não tem outro objetivo nem outro pensamento, nem deve ter qualquer outra coisa como prática, a não ser a guerra, o seu regulamento é sua disciplina, porque essa é a única arte que se espera de quem comanda. Assim, a arte da guerra é a única coisa que se espera do Príncipe, simular e treinar jogos de guerra. O Príncipe não pode deixar de se preocupar com a arte da guerra, e prática o tempo todo manobras de guerra mesmo em tempo de paz, pois só é possível ganha-la de duas formas: pela ação e pelo pensamento. A estratégia é base para a ação, e para pensar sobre a guerra Maquiavel orienta que o Príncipe deve ler e estudar as Histórias de países, e considerar as ações dos grandes homens, para compreender objetivamente como se lograram suas vitórias ou foram derrotados. Como os técnicos de futebol analisando as partidas dos adversários. O Príncipe como técnico precisa usar sua inteligência para comandar.
Na sequência do livro, no capítulo XV, Maquiavel examina o comportamento do Príncipe em relação aos seus súditos, como o público em geral; e em relação aos seus amigos, na vida privada. Ele pretende listar as razões que fazem o Príncipe ser louvado ou odiado. Mas antes, ele coloca como objetivo de seu livro escrever coisas úteis para os que se interessarem. Desta forma, o pensador chama a atenção de quem se preocupa com o que deve fazer em vez do que se faz, aprende antes a ruína própria. Manter os pés no chão da árida realidade, o sonho, o dever ser, o idealismo, manter a cabeça nas nuvens é construir a própria ruína. Para se preservar da ruína, além de não manter a cabeça nas nuvens, o Príncipe não pode fazer profissão de bondade, pois escreveu Maquiavel ”um homem que quiser fazer profissão de bondade, é natural que se arruíne entre tantos que são maus”. Maquiavel tem uma visão pessimista sobre o homem, mas isso não significa que ele advoga um tipo de maldade natural do homem. Para ele, o homem não nasce mal, não tem a essência do mal, porém está mais inclinado para fazer o mal. Por isso, quem faz profissão de bondade, vai se dar mal. Já que existe esta inclinação do homem para o mal. Mas isso não significa que o Príncipe deva ser perverso, cruel e sanguinário, o uso da força e da violência não é negado, porém este expediente deve ser bem dosado, o Príncipe não pode usar desmedidamente esta postura. É necessário, nos diz Maquiavel, que o Príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebataram o governo e praticar as próprias qualidades para lhe assegurar a posse. A questão não é ser bom ou mal, e sim mas aparentar ser.
Depois, Maquiavel no capítulo XVIII analisa detalhadamente as qualidades que sustentam o Príncipe no poder. Na gestão do governo o Príncipe deve gastar pouco não pode ampliar os impostos, a carga de tributos alta é vista como roubo. Este equilíbrio financeiro é uma atitude defensiva. Quando a carga tributária pesa na cabeça dos súditos, eles se ofendem com o Príncipe lamentando essa exorbitante arrecadação que provoca o empobrecendo de muitos para o súditos o príncipe torna-se assim desprezível. Parece que aquela máxima do Joãozinho trinta, o carnavalesco de coração carioca, mas maranhense de nascimento, que dizem que quer coisa de simplicidade, pobreza é intelectual, o povão quer ver luxo, ostentação. Porém, O Príncipe não pode sobrecarregar o súdito de impostos, mas também não pode viver no palácio com muita simplicidade, pois tem que manter a ostentação demonstrando riqueza. Na análise sobre o comportamento do Príncipe na questão financeira, no capítulo XVI, Maquiavel chega à conclusão que “é mais prudente ter fama de miserável, o que acarreta má fama sem ódio, do que, para conseguir a fama de liberal, ser obrigado a incorrer também na de ladrão [pois aumenta demais os impostos para gastar na vida palaciana], o que constitui uma infância odiosa”. Com essa orientação em mente, no capítulo XVII, Maquiavel elabora uma capciosa e ardilosa pergunta, qual seja:
É melhor ser amado ou temido pelo povo? Ou poderíamos pensar em outra formulação desta questão a partir do título do capítulo: É melhor ser considerado cruel ou piedoso?
Na primeira formulação as pessoas são inclinadas a achar que melhor é ser amado, mas depois Maquiavel nos mostrará sua visão bem peculiar. Já na segunda formulação ninguém tem dúvidas, ser reconhecido como piedoso (religioso – mesmo que seja mera aparência. Religião como capa, estética) é melhor do que ser considerado cruel. Mas ele escreveu: “O Príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: apesar disso, deve cuidar de empregar convenientemente essa piedade”. Empregar a piedade convenientemente deixa claro o caráter utilitarista e artificial dessa piedade religiosa. Como ele já havia falado, o Príncipe não pode fazer profissão de bondade, por isso desejar a imagem de piedoso não significa assumir ser piedosos de carteirinha. Mas é saber tirar vantagem desta imagem pública. Literalmente é saber ser raposa transvertida de ovelha. Ao enfrentar a questão se será melhor ser amado que temido, Maquiavel começa dizendo que bom seria ser as duas coisas, mas não é fácil reunir as qualidades que poderiam dar este resultado. Sendo assim, é muito mais seguro ser temido que amado. No final do capítulo XVII, Maquiavel escreveu: “concluo, pois, [...] que um Príncipe sábio, amando os homens como eles querem e sendo por eles temido como ele quer, deve basear-se sobre o que é seu e não sobre o que é dos outros. Enfim, deve somente procurar evitar ser odiado, como foi dito”.
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