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  • cleverfernandes196

AMOR, ÓDIO E INDIFERENÇA

Alguém, a partir da PROPOSIÇÃO XLIII DA PARTE III DA ÉTICA do Spinoza que diz: “O ódio é aumentado pelo ódio recíproco e, ao contrário, pode ser apagado pelo Amor”, poderia indagar:

“O ódio é o contrário do amor ou é a indiferença o contrário do amor? O que é o amor? Se for a indiferença o contrário do amor o quê é o contrário do ódio?”

Uma possível resposta do filósofo holandês poderia ser a seguinte: A primeira coisa que se precisa saber é que, para Spinoza, afeto são as “afecções do corpo pelas quais a potência de agir do próprio corpo é aumentada ou diminuída, favorecida ou coibida, e simultaneamente as ideias destas afecções”; e, a segunda coisa importante, é que “um pensamento é limitado por outro pensamento”, ou seja, só um pensamento contrário e mais intenso pode limitar a ação de outro pensamento. Assim, para fluir a dinâmica dos afetos é bom saber também que só um afeto contrário e com maior intensidade poderá frear ou reprimir outro afeto. Neste sentido a partir das definições dos dois afetos fundamentais da Ética podemos reconhecer seus contrários, quais são esses afetos: a alegria e a tristeza. E o que é alegria? O que é a tristeza para Spinoza? “Alegria é a passagem do homem de uma perfeição menor a uma maior”; e ” a Tristeza é a passagem do homem de uma perfeição maior a uma menor”. Então no primeiro afeto a pessoa aumenta sua potência de agir e no outro diminui, pois a tristeza é privação de uma realidade maior e melhor para uma menor e pior. Assim, o amor é o contrário do ódio em sua própria definição, pois o amor é uma alegria ligada a uma ideia de causa externa, enquanto, o ódio, seu afeto contrário, é a tristeza conjuntamente ligada à ideia de causa externa. Dessa forma, por definição, a indiferença não pode ser o contrário do amor. A pessoa indiferente é indiferente a tudo e não apenas a um afeto específico. A indiferença estaria “ENTRE” todos os afetos, por exemplo: Entre a admiração e o desprezo; a esperança e o medo; segurança e desespero; comiseração e o apreço; superestima e despeito; inveja e misericórdia; entre outros possibilidade. Não tenhamos dúvidas, a indiferença estaria entre o amor e o ódio. A pessoa indiferente não se sentiria afetada nem por saber do amor ou do ódio que outrem sente por ele. Penso que um bom exemplo dessa ideia de indiferença podemos encontrar no personagem do livro de Albert Camus o Estrangeiro. Sua indiferença frente a vida é assustadora. Ser ou não ser amado e amigo, ou odiado e inimigo de alguém era para ele indiferente. O indiferente não fica nem contente ou descontente, nunca está interessado em nada ou em mudança de vida. Na verdade, acha que nunca se muda de vida, a vida é o que é; que, em todo caso, todas as vidas para ele acabam se equivalendo e a dele nunca lhe desagrada. Assim, a indiferença não é contrário à nada, ela é uma postura ENTRE os afetos. Assim, só o amor afeto oposto ao ódio poderá apagar ou frear este afeto, não a indiferença.

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