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  • cleverfernandes196

UMA CLAREIRA TENEBROSA NO BRASIL: FASCISMO 2

Estamos vivendo no Brasil momentos tensos, confusos e tristes. Os últimos acontecimentos revelam que nossa pátria está com todos os sintomas da doença fascista: intolerância, violência gratuita e generalizada, estupidez e visão binária do mundo (dividir o mundo entre esquerda e direita é no mínimo tolice). O falecimento de Dona Marisa Letícia revelou a potência dessa postura fascista, pessoas comemorando a morte de outro ser humano, nos faz lembrar a felicidade dos nazifascistas com a morte dos judeus. O Brasil está doente. Está crescendo entre nós a desesperança, o pessimismo e o fatalismo. A esperança está morrendo, e isso é visível nos discursos que inflamam práticas de violência, tais como: Bandido bom é bandido morto! Morte aos esquerdopatas entre outros. Nas conversas em múltiplos lugares sociais temos as lamentações da situação de grave crise vivida no Brasil: crise econômica, política e moral. Sem perceber alguns ingênuos ressuscitam o sonho do grande herói salvador da Pátria, como se uma pessoa tivesse condição de resolver tudo.  Postura típica dos países de caudilhos, sempre na espera de um salvador da pátria. Esta postura é brilhantemente ironizada pelo humorista Roberto Gómez Bolaños na criação do herói mexicano e do jargão que lhe trazia a cena, muito conhecido aqui no Brasil: quem poderá nos defender: Chapolin Colorado. Parece contraditório afirmar que a esperança está morrendo e as pessoas estão esperando um salvador. Porém, continuo afirmado que a desesperança está crescendo. Vou me explicar. Compreendo que existe uma postura passiva da esperança, que apenas espera por uma ação do outro para mudar as coisas, essa postura da esperança que grita por socorro e nada faz ainda superabunda em nosso meio; é de outra linhagem de esperança que estou falando, a outra postura ativa da esperança, aquela que não é apenas esperar pela ação alheia, mas uma esperança-ação, a Esperança do verbo “esperançar”, que o professor Mario Sergio Cortella, em uma entrevista, faz a seguinte diferenciação, veja o que ele disse:

Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças”.

Como Cortella mesmo indica, sua ideia vem da insistente posição do grande educador brasileiro Paulo Freire, para quem a esperança enquanto necessidade ontológica precisa da prática para tornar-se concretude histórica. Nesta  perspectiva, só essa esperança ativa completa a prática libertadora, pois ela tem poder de transformação da realidade, ela é necessária, mas não é suficiente. A esperança do verbo esperançar é sinônimo de resistência. É essa esperança que estou sentindo cada vez mais diminuir entre nós. As pessoas não estão indo para as ruas, ou para as redes sociais, para lutar a favor do Brasil, estão lutando contra um conjunto de coisas realmente detestáveis, porém, não basta ser apenas contra, é necessário construir um projeto de nação. Além disso, o perigo maior das pessoas que apenas lutam contra, está no desejo frenético de resultados imediatos. Estão afoitos por respostas rápidas, atos mágicos para nos tirar de uma situação que foi construída num longo, longo tempo. O esperançar exige paciência histórica. A caminhada da reconstrução nacional não acontecerá com um decreto presidencial. Temos que construir pontes para unir as pessoas separadas por esses discursos de ódio e intolerância cada vez mais fortes. Precisamos também reconhecer as diferenças e aprender a respeitá-las. O Brasil é uma multiplicidade, existem múltiplos lados, não é simplesmente direita e esquerda. Essa visão simplificadora e superficial precisa ser superada. A realidade é complexa e profunda. Não podemos deixar a desesperança ganhar forças e lentamente nos imobilizar e nos fazer sucumbir no fatalismo das respostas imediatistas tipo as que estão sendo ventiladas nas redes sociais, as de cores fascistas, ditatoriais… Uma nação forte não significa uma nação governada por um ditador. Não precisamos de nenhum herói, ou grande irmão, ou um pai salvador, isso é patético, é infantil. Essa postura de desejar um ditador no poder me fez lembrar de uma narrativa bíblica.

O período pós-Josué ainda tem as marcas da organização coletivista e o livro dos Juízes narra a transição do sistema tribal, no qual o poder era dividido entre grupos de “anciões”, para um sistema de um homem no poder, a monarquia. A parte que me interessa deste livro é aquela que após Abimeleque eliminar todos os seus irmãos, filhos de Jerubaal, sobrando apenas seu irmão mais novo, que se escondeu da carnificina onde setenta homens foram assassinados (degolados) sobre uma pedra, signo que nos remete a um tipo de altar, parecendo tratar-se de sacrifício humano. O sobrevivente,  seu irmão Joatão, diante da proclamação de Abimeleque como rei narrou uma metáfora muito interessante, que podemos ler  no livro de Juízes 9: 7-16 – A parábola das arvores de Joatão diz, que certa vez: as árvores resolveram procurar uma árvore para reinar sobre elas, assim chegaram para a oliveira e falaram: Reine sobre nós? A oliveira respondeu: para reinar sobre vocês não poderei mais cuidar do meu fruto, e como ficaram os homens e os deuses sem o meu azeite, por isso recurso o cargo. Elas então seguiram a busca e foram ao encontro da figueira. Vem tu e reine sobre nós, falaram as árvores. Porém, a figueira respondeu: não posso reinar sobre vocês, pois teria que abandonar a doçura dos meus frutos, como ficariam os homens e os deuses sem meus suculentos figos. Foram obrigadas a seguir a busca, encontraram a videira e repetiram a pergunta; Reine sobre nós? A videira respondeu: se for reinar sobre vós, como ficaram os homens e os deuses sem o meu fruto que produz vinho e alegria. Por fim, todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. Sem vacilar ele respondeu às árvores: se, na verdade, me ungires rei sobre vós, vinde refugiar-vos debaixo da minha sombra.

Essa metáfora era uma denúncia do espinheiro que era Abimeleque, que matou quase toda sua parentela para poder assumir o poder. Após proferir essas palavras Joatão fugiu por medo da retaliação do seu irmão.

Para além do significado histórico do texto bíblico, ele também revela algo que já sabemos: a grande maioria dos governantes do mundo de ontem e de hoje são árvores infrutíferas, são espinheiros produzindo muita dor e sofrimento, principalmente, aos mais necessitados. Vide os tormentos dos refugiados na Europa e a situação brasileira. Então, para mim, solicitar um ditador no poder é o mesmo que pedir ao espinheiro que nos cubra com sua sombra. Essa não é a saída, este caminho já conhecemos, e sabemos onde ele no levará.

Temos que reagir, não podemos deixar que essa clareira tenebrosa e cinzenta tome conta do Brasil. Este país tem uma saída e não será pelos caminhos do fascismo ou qualquer ditadura tupiniquim. Para escaparmos de todos os tipos de imediatismos precisamos da filosofia, como farol da racionalidade iluminante contra as trevas dos fascismos sofridos em outros tempos. Pensar é preciso, sempre e em todos os momentos, principalmente, nestes dias sombrios e tenebrosos como estes que estamos vivendo.

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