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  • cleverfernandes196

O DUALISMO É UMA ILUSÃO

Estamos vivendo tempos difíceis, não só pela luta contra o COVID19, mas também por causa da guerra travada no mundo virtual contra as fake news. Guerra num mundo paralelo, nesse novo espaço social potente, que são as redes sociais. Ele na verdade se caracteriza muito como uma grande “roda de botequim virtual”, onde todo mundo tem uma opinião sobre tudo, como nas rodas de boteco as pessoas conseguem solução para todos os problemas da humanidade. Mas, além desse império das opiniões, neste botequim virtual temos pessoas usado de tudo para manipular outras pessoas com suas teorias da conspiração e, ao mesmo tempo, querem com elas ampliar e potencializar a cólera e o medo. Como sabemos, a economia da cólera é uma fonte potente de energia, e não existirá guerra sem ela. Já sabemos disso há muito tempo, o filósofo Sêneca (4 a. C. – 65 d. C), que foi também, escritor e político romano. Mestre da retórica e um dos principais representante do Estoicismo durante o Império Romano, nos presenteou com uma linda carta sobre a ira. Sua intenção nela foi oferecer um tipo de terapêutica para superação da ira, mostrando possíveis caminhos para tranquilidade da alma, pois ele já tinha consciência que uma vez liberada a irá tudo é possível. Quem esta no controle da economia da cólera (ou do escritório do ódio) pode provocar numa pessoa boa pensamentos e ações de um assassino violento e, além do mais, cria nele uma ilusão de que esta fazendo a coisa certa, porém ao aderir estará libertando o que tem de pior em si mesmo, e estará também ajudando na circulação de ideias neste botequim virtual. Nelson Rodrigues afirmou que toda unanimidade é burra, em certa medida sou inclinado a aceitar essa sentença como verdadeira, pois a unanimidade vem da preguiça do pensamento, ou da massificação midiática. Além do mais, a realidade e o acontecimento têm no mínimo dois lados, mas, quase sempre tem mais que dois, são sempre plurais, múltiplos e diversos. Os simplificadores que adoram o binarismo, querem por tudo reduzi-los apenas a duas partes. Estamos vivendo um coisa estranha no Brasil nos últimos dias, querem por tudo seguir alimentando essa polarização entre dois grupos X e Y, como se fosse possível dividir um pais todo em dois. A pergunta que precisamos fazer, antes de cairmos em umas das trincheiras, é: A QUEM SERVE ISSO? Os advogados de X e de Y, querem esconder e defender o quê, ou quem? Existe uma guerra produzida e capitaneada pelos engenheiros do caos, que produzem um verdadeiro culto à ignorância, na manipulação da economia do ódio.  Sei que na atual conjuntura brasileira, somos atravessados por tantas informações e contrainformações que ficamos e nos sentimos perdidos, principalmente, em tempo de pós-verdade (conceito ardiloso que visa esconder mentiras ou fake news como verdade, acho que a criação desse conceito é muito problemático. Porque a partir do momento que aceitamos de forma pacifica tal conceito, a verdade como construção fundada na realidade, deixa de ser importante, pois o que importa é a força e a capacidade de convencer a partir de uma narrativa atraente e envolvente. “Um recente estudo do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts – demonstrou que uma falsa informação tem, em media, 70% a mais de probabilidade de ser compartilhada na internet, pois ela é, geralmente, mais original que uma notícia verdadeira” (MOJI, p.53). Não estou ressuscitando a ideia da verdade como correspondência, pois essa carrega todas as marcas da filosofia essencialista e da representação, porém penso que a ideia de verdade não pode ser abandonada totalmente – mas isso é outro debate que podemos voltar em outro momento. A mentira é sedutora, talvez por isso a pós-verdade ganhou tanto terreno em nosso tempo). Mas, mesmo diante de uma cachoeira de informações precisamos usar nossa capacidade racional para não entrarmos de forma desavisada nessa guerrilha de mêmes, compartilhando algo que não é verdadeiro ou que apenas é mais uma armadilha para nos prender, pois agindo assim, estamos na verdade caindo numa armadilha ao repercutir, compartilhando, indignados qualquer tipo de provocação sem pensar minimamente sobre o conteúdo daquilo que estamos redistribuindo. Neste momento, viramos joguetes nas mãos dos guerrilheiros do ciberespaço. Não advogo a neutralidade, ficar sem se posicionar já é uma posição, mas não podemos também aceitar que só exista o lado X e o lado Y, o mundo não é binário (entre o comunismo, que algumas pessoas estão vendo em toda parte, e o capitalismo existem outras possibilidades. Entre a postura do estado máximo – estatismo geral – e o estado mínimo – privatização geral – podemos ter uma sociedade contra o estado, ou sem estado, proposta dos anarquistas). Da mesma forma, em relação a polemica fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não acho que ele deveria ter afirmado o que afirmou, não foi apenas uma frase infeliz, no calor do debate para acusar as perversidade do capitalismo, usou um frase estupida. Já chegamos a mais de 28 mil mortos no Brasil, este fenômeno natural não surgiu para dar nenhuma lição na humanidade. A Natureza não tem nenhuma preocupação com o ser humano, os chineses tem uma sentença que diz que a natureza trata o ser humano como CACHORRO DE PALHA. Os fenômenos naturais existem e vão sempre existir independente da vontade ou desejo humano e vão, para o bem ou para o mal, nos afetar. Enquanto para ela somos nada, ou, como diz a sabedoria chinesa, cachorro de palha, temos que pensar em ações criativas e eficazes que protejam as vidas, não só deste vírus, mas também deste perverso sistema econômico. O capitalismo é vampiresco, deseja nosso sangue, nossa vida. E essas duas narrativas em disputas não estão nessa luta maior, ambas defendem este capitalismo financeiro, não da mesma forma, uma como mais intensidade e selvageria, a outra com uma roupagem mais humanizada, mas não se iludam, os dois tem o mesmo patrão: o mercado financeiro. Nossa lutar não é só contra o vírus, nossa lutar é contra essa maquinaria social capitalista, que com essa pandemia mostrou o abismo entre os ricos e os pobres. Assim, é tolice agradecer ao vírus ou a qualquer outro fenômeno natural por aparecer e provocar mudanças de pensamentos em alguém ou em algum grupo. Entretanto, tolice maior é entrar no uso político dessa situação. Todo o esforço argumentativo é uma tentativa de igual X e Y. Por isso, retomo a questão inicial: quem ganha com isso? Pensem um pouco. Numa sociedade como a nossa é fundamental fazer o uso publico da razão. Devemos buscar o esclarecimento, precisamos nos posicionar sempre, mas tendo consciência do que efetivamente estamos defendendo e porque estamos na defesa disso ou daquilo. É necessário fugir da inteligência de rebanho, como disse Nietzsche, pois ela quer apenas construir uma unanimidade.

Agradeço ao amigo Nertan Silva-Maia, pela ilustração intitulada “Inteligência de rebanho”. Bico de pena s/ papel Vegetal, 21×29,5cm. Sigam o @nertansilvamaia nas redes sociais.

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