Estamos vivendo no Brasil um momento tenso, confuso e triste, e presenciando o crescimento da desesperança, do pessimismo e do fatalismo. A cada dia mais pessoas estão se convencendo de que não existe solução para toda essa sem-vergonhice brasileira. A corrupção grassa por todos os rincões, em todas as esferas, em todo tecido social. Parece que não escapa nada e ninguém. O Brasil se corrompeu todo, por isso temos múltiplas vozes gritando nas ruas, entretanto não são gritos de esperança por um país melhor. Nas ruas e nas redes sociais temos toda sorte de posturas, porém duas tem me deixado apreensivo: uma postura fascista, que ressuscitou nas redes sociais a figura do senhor Eneias Carneiro como símbolo do que desejam para nosso país; a outra, que me parece está ligada a essa, é a tentativa de buscar um herói nacional, tendo Eneias com um modelo, o protótipo do herói, postura típica dos países de caudilhos, sempre na espera de um salvador da pátria, o que lembra o apelo ao herói mexicano muito conhecido aqui no Brasil: quem poderá nos salvar: Chapolin Colorado. Parece contraditório afirmar que as pessoas estão se manifestando nas ruas à espera de um salvador, pois quem espera tem esperança, e iniciei dizendo que percebo um crescimento da desesperança. Vou me explicar. Compreendo que existe uma postura passiva da esperança, que apenas espera por uma ação do outro para mudar as coisas, essa postura da esperança que grita por socorro e nada faz ainda superabunda em nosso meio; é de outra linhagem que estou falando, a outra postura ativa da esperança, aquela que não é apenas esperar pela ação alheia, mas uma esperança-ação, a Esperança do verbo “esperançar”, que o professor Mario Sergio Cortella, em uma entrevista, faz a seguinte diferenciação, veja o que ele disse: “Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças”. Como Cortella indica sua ideia vem da insistente posição do grande educador brasileiro Paulo Freire, para quem a esperança enquanto necessidade ontológica precisa da prática para tornar-se concretude histórica. Nesta perspectiva, só essa esperança ativa completa a prática libertadora, pois ela tem poder de transformação da realidade, ela é necessária, mas não é suficiente. A esperança do verbo esperançar é sinônimo de resistência. É essa esperança que estou sentindo cada vez mais diminuir entre nós. As pessoas nãos estão indo para as ruas, ou para as redes sócias, para lutar a favor do Brasil, estão lutando contra um conjunto de coisas realmente detestáveis, porém, não basta ser apenas contra, é necessário construir um projeto de nação. Além disso, o perigo maior das pessoas que apenas lutam contra esta no desejo frenético de resultados imediatos. Estão afoitos por respostas rápidas, atos mágicos para nos tirar de uma situação que foi construída num longo tempo. O esperançar exige paciência histórica. Não podemos deixar a desesperança ganhar forças e lentamente nos imobilizar e nos fazer sucumbir no fatalismo das respostas imediatistas tipo as que estão sendo ventiladas nas redes sociais as de cores fascistas, ditatoriais… Uma nação forte não significa uma nação ditatorial. Não precisamos de nenhum herói, ou grande irmão, ou um pai salvador, isso é patético, é infantil. Temos que reagir, não podemos deixar que essa clareira tenebrosa e cinzenta tome conta do Brasil. Este país tem uma saída e não será pelos caminhos do fascismo ou qualquer ditadura tupiniquim. Para escaparmos de todos os tipos de imediatismos precisamos da filosofia, como farol da racionalidade iluminante contra as trevas dos fascismos sofridos em outros tempos. Pensar é preciso, sempre e em todos os momentos, principalmente, nestes dias sombrios e tenebrosos que estamos vivendo.
cleverfernandes196
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