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  • cleverfernandes196

SENTIDO DA VIDA, LEITURA E FUTURO

Neste texto quero pensar um pouco sobre a vida, que é repleta de tanta contradição, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, encontros e despedidas, a partir de alguns fragmentos de ideias do pensador Miguel de Unamuno. Porém, antes de entrarmos na questão da filosofia e vida em Unamuno, vou apresentar rapidamente seu perfil biográfico.

Miguel de Unamuno nasceu em Bilbao, na Espanha, no final do século XIX. Em 1883, com apenas dezenove anos, já havia obtido a sua graduação em filosofia e letras. Alguns anos depois obteve a cátedra de grego da Universidade Salamanca. Em l901, foi nomeado reitor, cargo que exerceu até 1914, quando foi forçado a demitir-se. De idéias revolucionárias, na juventude, escreveu diversos artigos no Jornal O Socialista e na Revista Ciência Social de tendência anarquista. Devido sua militância política suas reflexões centraram-se na situação política da sua pátria. Depois de sofrer uma crise existencial, o seu positivismo racionalista converteu-se numa busca ansiosa para encontrar um sentido para a existência humana. Foi nesta época que produziu as melhores reflexões sobre a vida humana. Os dois melhores ensaios escritos com esta preocupação são “Do sentimento trágico da vida”, que temos uma ótima tradução publicada pela Editora Martins Fontes; e “A agonia do cristianismo”. Embora esta problemática apareça no conjunto de sua produção, sem dúvida nestas duas obras temos as ideias sobre a existência presente de forma sistemática. Além de sua produção filosófica, dedicou-se a uma vasta produção cultural, poética, literária, comentários sobre pintura e literatura que, direta ou indiretamente, também mostram sua visão sobre o sentido da existência humana.

Qual o sentido da vida? Qual vida merece ser vivida? Existe um propósito para a vida humana? Diante dessas indagações, quero apenas oferecer algumas sentenças brilhantes formuladas pelo pensador Espanhol Miguel de Unamuno. Ele, quando era Reitor da Universidade de Salamanca, em uma de suas aulas inaugurais disse para uma plateia atenta e viva as seguintes palavras:

SOMOS MAIS PAIS DO NOSSO FUTURO DO QUE FILHOS DE NOSSO PASSADO

Tal sentença, dura e verdadeira, com certeza, afirma que nossa condição atual não é determinada pelo passado, nossas escolhas no presente são muito mais importantes do que nosso passado, somos responsáveis pelo nosso futuro no aqui e agora da vida. Assim não somos frutos do acaso, não somos coisas acidentais ou meros produtos de um passado determinado. Desta forma, a sentença do filósofo, retira dos ombros de nossos formadores (pais, professores e responsáveis) a culpa pelo produto final que tornamos. Ele não estava negando o papel destas figuras sociais importantes em nossas vidas em formação, mas estava dando o exato contorno da participação deles em nossa formação. Afinal eles não são os agentes principais do sucesso ou fracasso de nossas vidas, pois não somos apenas filhos deste passado educacional. Não quero, e tenho certeza que Unamuno também não queria, dizer que o passado não tem sua força, que ele não tem influência em nossas escolhas, mas, na verdade, penso que ele está dizendo apenas que não podemos colocar tanta responsabilidade do que somos nas experiências vividas e sofridas, pois mais importante é que somos gestores, pais de nosso futuro. Em outras palavras, as realizações, as conquistas, as vitórias e derrotas de nossa existência não devem ser atribuídas a ninguém, somos nós os responsáveis plenos e absolutos por elas. Em ressonância com ele, Sartre escreveu: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”, ou seja, você poderá ficar prisioneiro do seu passado ou pode optar por seguir a vida. Para os dois pensadores, em tempos diferentes, a vida deve seguir sempre. O futuro é para onde devemos lançar nossas vidas. Além disso, podemos perceber outro ponto de contato entre Sartre e Unamuno na questão da liberdade humana. Sartre advoga que o homem está condenado à liberdade, pois tudo que somos é fruto de nossas escolhas. Assim, ser pai do futuro é ser livre e responsável pelas escolhas que fazemos no presente em ação. Essa responsabilidade sobre o presente de nossas vidas se intensifica ainda mais, seguindo esse pensamento do Espanhol, pois para ele

NÃO HÁ FUTURO; O VERDADEIRO FUTURO É HOJE; QUE É DE NÓS HOJE, É ESTA A ÚNICA QUESTÃO”.

Desta forma quando ele afirmou que somos pais de nosso futuro, não estava lançando as realizações da vida para um tempo muito distante, ou para o infinito, mas sim aproximando o agente das ações da ação em si, pois é no presente, nas ações cotidianas que estamos produzindo, construindo, sendo genitores de nosso futuro. O futuro é o agora. A cada dia estamos plantando o que seremos no que já somos. Unamuno também ofereceu uma saída para tal situação. Afinal como descobrir a melhor opção no tempo presente, como escolher o futuro certo, já que não temos nenhuma bola de cristal para antecipar a escolha. Jogar cartas de tarô não deve se a melhor saída, pois as simbologias das cartas são sempre enigmáticas, jogar búzios nem pensar. A questão é que estamos sós e não sabemos e nem temos a certeza de como sair desta cilada da escolha correta. E quando estamos finalizando uma etapa na vida e temos que escolher um novo rumo, ficamos sempre pensativos e muitas vezes sem saber para onde seguir. É o caso de muitas pessoas o tempo todo, a todo o momento temos pessoas terminando ou redefinindo os rumos da vida. E ai sempre vem em mente às perguntas: E agora o que farei? Qual o rumo darei a minha vida? O momento de escolhas dos projetos de felicidades a nossa frente lança-nos sempre em uma sinuca de bico. Porém, o certo é que não temos, e ninguém tem uma resposta para tal situação. A sorte está lançada, temos de definir o que vamos fazer com nossa vida o tempo todo. Será que existe uma solução original para tal momento? Como ser original num mundo tão plural? Como ser autentico num mundo repleto de inautenticidade? A resposta do nosso pensador é simplesmente fantástica. Particularmente gostei muito quando li que a saída para tal situação estava também na leitura. Para não vivermos uma vida sem sentido ou simplesmente repetir a vida alheia é necessário descobrir uma saída original. Para Miguel de Unamuno a vida autentica, a vida original pode vir da prática de leitura. Ele escreveu que

LER MUITO É UM DOS CAMINHOS PARA A ORIGINALIDADE; UMA PESSOA É TÃO MAIS ORIGINAL E PECULIAR QUANTO MAIS CONHECER O QUE DISSERAM OS OUTROS

A leitura abre novos mundos, apresenta novas possibilidades, e se somos os pais desde admirável mundo novo construído no futuro que é agora, quanto mais tivermos acesso a boa leitura, mais fácil será a edificação das pontes rumo a margem do rio da vida que estamos trilhando. Sem fugir da responsabilidade de acompanhar as ideias do pensador espanhol, quero aqui lembrar uma máxima de Friedrich Nietzsche que corrobora a visão de Unamuno. O filósofo alemão disse que

NINGUÉM PODE CONSTRUIR EM TEU LUGAR AS PONTES QUE PRECISARÁS PASSAR, PARA ATRAVESSAR O RIO DA VIDA – NINGUÉM, EXCETO TU, SÓ TU

A ênfase nietzschiana da responsabilidade que temos na construção da existência está em total sintonia com a paternidade do futuro/agora de Unamuno. Realmente ninguém poderá ser responsabilizado pelas escolhas de minha existência, somos nós que sempre seremos os pais/construtores de nosso futuro. Tal afirmação parece que nos lança em um tipo de orfandade, pois o viver nesse sentido individualista gera sensação de estarmos absolutamente sozinhos. Apesar de termos que assumir a plena responsabilidade das nossas escolhas profissionais e pessoais não vivemos como ilhas, com certeza não estaremos tão solitários assim, pois mesmo a vida sendo vivida como órfãos teremos sempre a companhia alegre dos outros aventureiros do viver. Além é claro dos bons e maravilhosos livros, pois como disse Unamuno

LER, LER, LER  [É ] VIVER A VIDA QUE OUTROS SONHARAM

E assim com essas experiências podemos aprender com os personagens e pensamentos dos livros que travamos um delicioso diálogo. Assim quem sabe conseguiremos com essas leituras mais referências para construirmos nosso futuro, nossos sonhos e nossas realizações ao longo da nossa existência.

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