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  • cleverfernandes196

OS CAMINHOS E OS AMIGOS

O escritor Carlos Castañeda, em seu livro A erva do diabo: os ensinamentos de Dom Juan, escreveu: “Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. […]. Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias… então, faça a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom; em caso contrario esse caminho não possui importância alguma“. Quando me encontrei com essa ideia sofri um impacto incrível, spinozamente falando, realizei um encontro bom e alegre. Como nos ensinou Deleuze só pensamos quando somos violentados, e posso afirmar que essa ideia violentamente entrou em minha mente e nunca mais saiu. A partir deste encontro fui conduzido a múltiplos pensamentos sobre a vida e seus rumos. Ideia libertária, pois ninguém deve ser prisioneiro de um caminho que não tem mais sentido. Precisamos ter coragem para inicia-lo, mas também para mudar a direção quando nosso coração grita pela falta de sentido na e da vida que se arrasta. Como já sabemos, os caminhos só existem quando iniciamos o caminhar, como escreveu o poeta Antônio Machado: “Caminante, no hay caminho se hace el camino al andar“. Assim nossa vida, como um caminho, é um processo lento e gradativo, que se faz a partir de nossas escolhas. Somos nós que definimos os rumos nas encruzilhadas da vida. Além disso, o grande Frederic Nietzsche afirmou que: “Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, – para atravessar o rio da vida [no caminho de tua existência] – ninguém, exceto tu, só tu“. Sendo assim, só podemos seguir o caminho que ainda merece ser trilhado. Essa ideia do pensador Castañeda é um tipo de ideia permanente, pois existem ideias que nos afetam com tanta intensidade e tem uma durabilidade impressionante em nossas vidas. Não são descartáveis. São pensamentos potentes e poderosos que nos auxiliam a viver melhor. Da mesma forma, existem também pessoas que entram em nossas vidas e, mesmo passando anos e décadas, estão sempre presentes. E o interessante é que estas pessoas mesmo distantes são presenças marcantes em nossas vidas e, muitas vezes, sem saber nos auxiliam quando estamos numa encruzilhada. Com estas pessoas temos um tipo de relação diamante, pois são belas, fortes e cristalinas. Apenas estas relações duráveis nos acompanham pelos caminhos e descaminhos da vida, pois, essas pessoas são verdadeiras amigas, elas nos seguem nos campos floridos e alegres; e nos escoltam nos desertos e pântanos tristes da existência. Agora a questão é saber: como sei que encontrei este tipo de pessoa? Muito simples, primeiro não tenhamos pressa, pois temos que lembrar, o diamante não se forma rapidamente, ele precisa de muitos anos em condições elevadas de grande temperatura e pressão. As relações diamantes também serão duráveis quando testadas nas adversidades existenciais ao longo do tempo de convivência. Neste mesmo sentido, a sabedoria bíblica também orienta não termos pressa em confiar nas pessoas, o tempo mostrará quem são nossos amigos de verdade. O autor bíblico escreveu: “Se queres um amigo, adquire-o pela prova e não te apresses em confiar nele. Porque há amigos de ocasião; ele não será fiel no dia de tua tribulação […] acautela-te com teus amigos. Um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo vital” (Eclesiástico, 6,5-17). Assim, penso que devemos aplicar a mesma pergunta de Carlos Castañeda, temos que sondar nosso coração. Ele é o termômetro que pode indicar se estamos diante de alguém importante em nossa vida ou não. Porém, só o tempo, com sua força corrosiva, poderá nos revelar se aquela pessoa conseguiu passar pelo teste de fogo da vida, que são as desventuras e sofrimentos que passamos ao longo da história. O coração vai lembrar dos amigos que não foram apagados pelo tempo, pois diante das transformações e das mudanças de temperatura e pressão eles resistiram ao nosso lado. E, assim, podemos lembrar da Canção do poeta Milton Nascimento que diz:

Amigo é coisa para se guardar. 

No lado esquerdo do peito

Mesmo que o tempo e a distância digam “não”

Mesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvir

A voz que vem do coração

Além do mais, os amigos são aqueles que encontramos nos caminhos da vida, abraçamos a sua alma, somos abraçados com a doçura de sua amizade e, por isso, são para nós bálsamos vitais. Quando isso acontece a admiração surge como laço forte que nos une a essas pessoas para sempre, como escreveu Jared Hassan: “Tenho a mais profunda admiração por pessoas que abraçam a minha alma com a doçura da amizade”. Não existe amizade verdadeira quando só se abraça o corpo do outro, ela exige o contato com a alma, pois abraçar a alma de alguém é aceitá-la como ela é. É acolhê-la totalmente e assim sentir a doçura de sua amizade, que dá sentido à nossa vida as vezes tão amarga e árida. Não tenho dúvidas, os caminhos da vida tornam-se mais leves e agradáveis quando temos amigos. E precisamos da paciência para discernir quem são eles, já que ninguém se torna amigo da noite para o dia. Mas, os amigos são aqueles que o tempo não conseguiu, com sua força corrosiva, apagar de nossos corações, são aquelas pessoas da infância e da juventude que nos acompanham até a maturidade. Eles são importantes. Não que não possamos ter amigos de outras estações da vida, mas estes amigos remanescentes das primeiras estações são especiais, pois foi com eles que compartilhamos os momentos de descobertas e construção de nossa identidade.

Para finalizar, quero aqui transcrever uma mensagem muito interessante que está circulando nas redes sociais, atribuída ao apresentador e músico Rolando Boldrin, que concordo em gênero, número e grau. Veja o que ela diz:

O Tempo passa. A vida acontece. A distância separa… As crianças crescem. Os empregos vão e vêm. O amor fica mais frouxo. As pessoas não fazem o que deveriam fazer. O coração se rompe. Os pais morrem. Os colegas esquecem os favores. As carreiras terminam. Os filhos seguem a sua vida como você tão bem ensinou. MAS… os verdadeiros amigos estão lá, não importa quanto tempo e quantos quilômetros estão entre vocês. Um amigo nunca está mais distante do que o alcance de uma necessidade, torcendo por você, intervindo em seu favor e esperando você de braços abertos, e abençoando sua vida! E quando a velhice chega, não existe papo mais gostoso do que o dos velhos amigos…. As histórias e recordações dos tempos vividos juntos, das viagens, das férias, das noitadas, das paqueras…. Ah!!! Tempo bom que não volta mais…. Não volta, mas pode ser lembrado numa boa conversa debaixo da sombra de uma árvore, deitado na rede de uma varanda confortável ou à mesa de um restaurante, regada a bom vinho, não com um desconhecido, mas com os velhos amigos. Quando iniciamos esta aventura chamada VIDA, não sabíamos das incríveis alegrias ou tristezas que estavam adiante, nem sabíamos o quanto precisaríamos uns dos outros“.

Temos nessa mensagem o fluxo da existência descrito com clareza e, ao mesmo tempo, uma constatação fundamental, precisamos dos amigos para atravessar a vida, pois as pessoas que abraçamos a alma, são elas que nos ajudam a dar sentido a nossa existência. Então, além de trazer doçura a vida, como falei anteriormente, os amigos verdadeiros são presenças mesmo na distância, alguns amigos do caminho são mais queridos do que alguns irmãos e tornam-se também irmãos.

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