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  • cleverfernandes196

NATAL FESTA DA MULTIPLICIDADE

Atualizado: 20 de fev. de 2021

Então é Natal a festa cristã? Há tempos Natal não é apenas festa cristã, apesar da roupagem religiosa a festividade natalina é uma multiplicidade. Não quero aqui assumir ou entrar no discurso dos lamentadores que advogam que o verdadeiro espírito ou valores do Natal se perderam com o tempo, pois acredito que sempre existiu múltiplos valores que movimentaram as pessoas para a celebração natalina. Provavelmente pela maneira peculiar do surgimento e consolidação dessa data. Essa data é uma criação ou invenção do cristianismo para celebrar o dia do nascimento de Jesus. Exatamente, 25 de dezembro é ficção. Não sabemos quando realmente nasceu Jesus. Tanto é assim que não existe consenso nem entre os próprio cristãos, pois as Igrejas Orientais celebram o Natal de Jesus dia de 6 de janeiro, data que a Igreja Católica Romana celebra a festa dos Santos Reis, a visita dos três reis magos ao menino Jesus na manjedoura, em Belém. Até o século III da era comum não temos nenhuma informação sobre a data de nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro. Natal foi uma adequação conveniente para comemorar o advento do messias cristão. Neste dia, em Roma, se celebrava o nascimento do deus Persa muito popular MITRA [Sol Invencível]. Este título de Mitra caiu como uma luva para as designações bíblicas do messias, assim transferiram aquilo que era designado a Mitra para Jesus. O nascimento do Sol Invencível era alusão ao nascimento de Jesus. Jesus “Luz do Mundo”, “Sol de Justiça”, “Sol nascente que nos veio visitar”. O Sol Invencível verdadeiro. Jesus substitui Mitra, temos a cristianização da festa de Mitra. Assim, a partir do século III, é possível seguir historicamente essa consolidação do 25 de dezembro como festa do nascimento de Jesus. Porém, como o mundo nunca foi apenas cristão, Mitra ainda continuou sendo também reverenciado nesse data. Com o passar do tempo a hegemonia cristã suplantou a festa de Mitra. É possível compreender sociologicamente essa movimentação de ascensão e queda das divindades numa sociedade. Jesus tornou-se mais popular do que Mitra, assim a festa de Natal virou festa do nascimento do menino luz.

Se no início era apenas celebração religiosa, paulatinamente ela foi se transformando e incorporando outros elementos. No século XIII, por volta de 1223, temos a criação do presépio atribuído a São Francisco de Assis. Essa representação do nascimento do menino Jesus na manjedoura com os animais se popularizou rápido. No século XVI surgiu a árvore de natal na Letônia, que também rapidamente se popularizou. A tradição natalina vai se construindo, a troca de presente não é uma invenção capitalista, temos pelo menos duas versões para essa tradição de troca de presentes no Natal. Segundo uma versão historiográfica, essa troca de presentes vem da festa em homenagem ao deus romano Saturno, que se comemorava entre os dias 17 a 24 de dezembro. Era uma comemoração Alegre, e na festa de Saturnália já existia esse tradição de troca de presentes l. Porém, existe outra versão que justifica que a tradição cristã de troca de presentes no natal surgiu em razão da visita dos reis magos que presentearam Jesus com ouro, mirra e incenso. Não temos certeza, mas o fato é que o Natal como festa cristã é uma criação histórica. Natal é mistura de tradições cristã e não cristãs. Com o advento do capitalismo e a ideia de um estado laico o Natal ganhou outra roupagem. Mas afinal, o que significa comemorar Natal num Estado Laico e Capitalista? Apesar de ser uma festa religiosa, não se tem vozes contrárias ao recesso de natal nos órgãos públicos, nenhum dos mais ferrenhos defensores da laicidade do Estado lutam contra essa situação. Uma contradição, pois não se pode ter símbolos religiosos nos prédios do Estado, mas estes órgãos públicos podem parar suas atividades para comemorar uma festa religiosa. A laicidade é coisa relativa às conveniências. Então voltemos a questão: O que significa comemorar o Natal num Estado LAICO? Sinceramente, é visível que o interesse não é espiritual. Natal nessa condição é apenas momento de festejar, de ficar sem trabalhar, de passar uns dias longe da repartição. O badalado espírito natalino é uma farsa, como muitas coisas da vida social. Natal num Estado LAICO não tem sentido e muito menos numa sociedade consumista que transforma e reduz a festa de Natal a uma banal tradição de troca de presentes. É a metamorfose da festa de 25 de dezembro que antes era festa a Mitra, depois tornou-se nascimento de Jesus e agora uma nova versão se consolidou Natal uma indústria lucrativa. Existe uma maquinaria gigantesca girando em torno da festa de aniversário de Jesus, na verdade temos outro protagonista dessa festa: o papai Noel, um velho gordinho, vestido de vermelho e com barba e cabelos brancos. O “bom velhinho” com um saco de presentes nas costas é o símbolo dessa grande festa. Talvez por isso não tenha tanto problema o Estado Laico parar suas atividades em praticamente todos os órgãos para comemorar o Natal, pois a festa não é tão religiosa assim. Ela é peça fundamental na engrenagem do sistema capitalista, Natal é sinônimo de consumo. Com as festividades de Natal o comércio aquece suas vendas. Papai Noel ao contrário de Jesus não representa liberdade, quer dizer representa a liberdade de consumo. Como ele não existe alguém terá que assumir este papel de Papai Noel para que as crianças ganhe seus presentes. Nessa tradição natalina dar presente para alguém, torna-se um tipo de obrigação. É uma ofensa não entrar nessa dinâmica de dar e receber presentes. A pessoa se sente obrigada a comprar algo e, ao mesmo tempo, fica na expectativa imaginando o que vai receber. Muito parecido com a ditadura da alegria nos dias de Carnaval, ninguém pode ser triste nos três dias oficiais no carnaval brasileiro. Da mesma forma, ninguém pode ficar sem dar e receber presente de Natal. Mas mesmo imbuído pelo espírito capitalista o Natal não se reduz a compras de presentes. O aniversário de Jesus é comemorado de múltiplas formas. Para alguns é momento de se reunir com a família, outros se sentar numa mesa farta, a ceia natalina; uns poucos levam a sério as celebração religiosas missas e cultos de Natal e há sim quem o reduz a troca de presentes. Essa é a multiplicidade natalina. Cada um faz seu Natal.

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