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cleverfernandes196

FELIZ ANO NOVO OU FELIZ ANO VELHO

Todo final de ano vemos pessoas prometendo mudar de vida, usando os velhos jargões: “neste ano que se inicia vai ser tudo diferente”. “Não irei fazer isso, nem aquilo”. “Ano novo, vida nova” o blá-blá-blá de sempre. O problema é que não basta prometer, é fundamental uma nova postura frente à vida. Viver os momentos necessários para construir o projeto definido como prioridade do ano nascente, como quem saboreia um manjar dos deuses. A realização das promessas não é fácil, pois romper a inércia depende de muita energia e força de vontade. O velho Isaac Newton já nos ensinou em sua primeira lei que a tendência dos corpos, quando nenhuma força é exercida sobre eles, é permanecer em seu estado natural, ou seja, repouso ou movimento retilíneo e uniforme. Assim, se não nos esforçamos, a tendência natural é permanecer da mesma forma parado ou seguindo o mesmo rumo, como se estivéssemos ligados no piloto automático. E novamente no final do ano nos pegamos fazendo as mesmas velhas promessas. A roda viva gira e voltamos ao mesmo lugar tipo um eterno retorno do mesmo. Além da força para romper a inércia, precisamos viver os acontecimentos da vida de forma intensa, mas, a dificuldade é que nos tornamos prisioneiros ou reféns de uma oscilação perversa entre passado e futuro. Para muitos viver o aqui e o agora é um desafio, pois nosso PRESENTE está repleto de FUTURO e carregado de PASSADO e por isso ficamos oscilando entre um e outro. Porém, isso não significa que não podemos nos desvencilhar dessa oscilação, mas somos nós que escolhemos, por um lado, ser ressentidos ou vingativos, quando nos alimentamos das imagens vividas ou sofridas do passado, da mesma forma que podemos nos tornar saudosistas do passado idealizado; e, por outro lado, podemos ser sonhadores de acontecimentos imaginários existentes apenas no futuro, naqueles sonhos de olhos aberto que nunca poderão se concretizar. Não basta sonhar é necessário aquela força para sair da inércia delirante do sonho. No fundo essa oscilação entre passado e futuro é uma fuga do presente movida, muitas vezes, pelo medo de assumir a dura realidade. Abraçar o imaginário do passado, fruto da saudade, e o do futuro, produto da esperança, são formas de se desviar do mundo real, além disso, saudade e esperança são dois sentimentos tristes que podem paralisar a nossa vida. O medo do novo nos faz fugir e agarra-se a segurança do passado ou nos faz idealizar o futuro improvável.  O mundo possível é muitas vezes assustador, pois não sabemos o que nos reserva o próximo ano. E quando estamos diante de prognósticos nada auspiciosos nos sentimos como na canção do Zeca Baleiro, a Flor da pele:


“Um barco sem porto

Sem rumo, sem vela

Cavalo sem sela

Um bicho solto

Um cão sem dono

Um menino, um bandido

Às vezes me preservo

Noutras, suicido!”


Qual será o rumo deste ano que se aproxima? Não temos ideia, apenas alimentados pela esperança acreditamos que vamos viver como aquela canção otimista, idealizaste e alienante de todos os finais de ano da Rede Globo, desde da década de 1970:


“Hoje, é um novo dia

De um novo tempo que começou

Nesses novos dias

As alegrias, serão de todos

É só querer

Todos os nossos sonhos

Serão verdade…

O futuro, já começou”

[Composição: Paulo Sérgio Valle/ Marcos Valle/ Nelson Motta].


Esperança delirante, pois não basta querer para transformar os sonhos em verdade. Este olhar romântico sobre a vida não muda nada.

Porém, podemos olhar para este novo e tenebroso ano com vontade de voltar no tempo, o passado como sonho dourado. Entretanto nenhuma dessas posturas vai impedir o movimento inexorável da história, que não depende de nossa vontade. As coisas vão acontecer independentes de nossas ações. Mas isso não significa que não podemos traçar nosso caminho neste novo ano. O caminho não existe, ele só existe quando passamos. É necessário repetir, ninguém pode traçar o caminho que é só nosso. A vida de cada um tem a rota estabelecida por ele, como podemos ler na composição de Chico Amaral e Samuel Rosa, Acima do Sol:


“Eu não posso te ajudar

Esse caminho não há outro

Que por você faça

Eu queria insistir

Mas o caminho só existe

Quando você passa”


Teremos um novo ano para criar o caminho que acreditamos ser o melhor a seguir, ou seja, mais um ano para definirmos aquela vida que merece ser vivida. Não podemos nos acovardar e simplesmente nos contentarmos com a vida possível ou por medo deste novo ano que se descortina nos limitarmos a repetir o passado. Não podemos desperdiçar mais uma chance, caso contrário, tem-se que declarar aquela fórmula usada pelo Marcelo Rubens Paiva em seu livro: FELIZ ANO VELHO, demonstração cabal de que o passado é melhor que o futuro. Porém, não podemos esquecer, quando declaramos FELIZ ANO NOVO não significa que vamos viver o futuro. Não se vive no passado ou no futuro, vivemos apenas no presente. Que venha 2017.

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