O filme Instinto Secreto é instigaste, pois o personagem Earl Brooks, executivo de sucesso, marido e pai exemplar, filantropo generoso, que todos consideram um pilar na comunidade, condecorado como cidadão e empresário do ano. Ele tem a Família perfeita, a vida sonhada por muitos. Entretanto, por trás desta mascara social, ele esconde um grande segredo: é um serial killer. Seus crimes são conhecidos como sendo do Assassino da Impressão Digital. Com uma inteligência invejável, executa seus crimes sem deixar vestígio, por isso, os investigadores não tinham ideia de qual seja a identidade do autor daqueles assassinatos. Porém, o instigaste no filme não é este segredo inconfessável deste homem perturbado, mas a forma como ele encara sua situação. Como um viciado, ele freqüenta um tipo de alcoólicos anônimos, mas seu vicio não é álcool, drogas, sexos, ele é viciado em matar. Além de freqüentar este grupo de auto-ajuda, o personagem central do filme faz freqüentemente a oração da serenidade do pastor e teólogo americano Reinhold Niebuhr (1892-1971):
“Senhor, conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas. Vivendo um dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez, recebendo as dificuldades como um caminho para paz, aceitando este mundo cheio de pecados como ele é, assim como fez Jesus, e não como gostaria que ele fosse; Confiando que o Senhor fará tudo dar certo se eu me entregar à Sua vontade; Pois assim poderei ser razoavelmente feliz nesta vida e supremamente feliz na outra.” Amém!
Ele recita esta oração como um MANTRA. Agora, deixando o filme de lado. Vamos pensar neste texto de Niebuhr, teólogo protestante muito importante para o cristianismo estadunidense. Sem dúvida esta oração tem um senso de realismo fantástico. É necessário aceitar as coisas e as pessoas como elas são, não temos força para mudar aquilo que não esta em nosso controle. As outras pessoas não são massa de modelagem em nossas mãos. A relação com o outro deve ser de respeito, não somos o espelho para o outro simplesmente reproduzir nossos gestos e ações. Mesmo quando os outros são nossos filhos é essencial reconhecer que a vida deles não são extensões de nossas vidas, mesmo não gostando do rumo tomado por eles temos que reconhecer que suas vidas lhes pertencem. É o que podemos chamar de princípios da razoabilidade. Este princípio orienta que temos que ser razoáveis nos relacionamentos com os outros (filhos, cônjuges, amigos etc.). Além disso, é fundamental viver os momentos sem atropelos, viver um dia de cada vez. Nada resolve sofrer por antecipação; as coisas não se transformam pelo tamanho da preocupação sentida, ela nada acrescenta ou diminui na situação vivida ou sofrida; também não temos como paralisar o fluir do tempo, naqueles momentos agradáveis, e nada adianta ficarmos sonhando com estes dias dourados. É preciso afirmar a vida em suas contradições e com suas contradições, aceitando sem conformismo o mundo como ele é, por isso, precisamos de SABEDORIA, para discernir entre aquilo que podemos mudar e aquilo que não temos como mudar; e CORAGEM para jamais nos acovardarmos diante das coisas que podemos e devemos transformar.
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