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  • cleverfernandes196

A ECONOMIA DA FELICIDADE DE ARTHUR SCHOPENHAUER

Neste texto quero apresentar um tipo de economia da felicidade do pensador alemão Arthur Schopenhauer, ou seja, pretendo pensar as bases da felicidade para este pensador do século XIX, a partir do seu livro “Aforismos para a sabedoria na vida” [publicado em 1851], nele o filósofo apresenta as três bases da felicidade humana: daquilo que se é, daquilo que se tem e daquilo que se representa.

1) Para Schopenhauer, AQUILO QUE SE É abrangem sete elementos: a saúde, a força, a beleza, o temperamento, o caráter moral, a inteligência e o seu cultivo. Na visão schopenhauriana estes elementos contribuem muito para a felicidade, mais que o que se tem, ou representa. Para ele a posse dos bens materiais e as honrarias sociais não são fundamentais na composição da felicidade, o essencial é: “um caráter nobre, um cérebro capaz, um temperamento feliz, um ânimo jovial e um corpo bem constituído e completamente sadio”. Estas são condições para felicidade, pois uma pessoa melancólica jamais será feliz. Ele tem razão, pois, estes elementos de nossa subjetividade são partes significativas da composição de nossa felicidade. Além disso, como ensinou Spinoza, a potência de agir esta ligada a alegria, pois, uma pessoa triste não tem nem motivação para agir. Veja o que Schopenhauer escreveu: “é certo que nada contribui menos para a alegria que a riqueza e nada concorre mais para ela que a saúde […] Segue-se que o nosso maior esforço deveria ser o de conservar sobretudo um alto grau de saúde completa, que há de florescer em alegria. Os meios para tanto são, como se sabe, evitar todos os excessos e extravagâncias” […] e, principalmente, não ter uma vida sedentária. A prática esportiva é fundamental para saúde e, consequentemente, para a alegria, pois um corpo saudável é um corpo em movimento. O sedentarismo é doença que gera dor e tristeza, que nos torna mal-humorados. A saúde é fonte de alegria e, para ele, ela tem parentesco com a beleza. “Embora essa vantagem subjetiva [da beleza] não contribua propriamente e de modo imediato, mas apenas mediatamente para a felicidade, pela impressão causada em outros, é, contudo, de grande importância, também no homem. A beleza é uma carta aberta de recomendação, que de antemão nos conquista os corações…”, ou seja, a beleza corporal não é condição sine qua non [isto é, não é condição essencial] para felicidade, mas sem dúvida ajuda. Então a primeira orientação schopenhauriana para a felicidade é que tenhamos sempre muito cuidado com a saúde, pois corpo saudável produz disposição para a alegria, assim como uma pessoa com jovial saúde terá sempre motivo para ser feliz. E, como disse Schopenhauer, “quem está alegre tem sempre motivos de estar” simplesmente alegre. Saúde é alegria. Além disso, para ele, precisamos cuidar do nosso universo interior como local da felicidade. Para Schopenhauer a dor e o tédio são os dois inimigos da felicidade humana, e a vida é “uma oscilação mais forte ou mais fraca entre os dois”. Este movimento oscilatório entre ambos é possível por que: o primeiro é algo exterior e objetivo, provocado pela necessidade e privações; e, o segundo, é íntimo e subjetivo gerado pela segurança e abundância. Assim, suprida as necessidades, a humanidade “vive em luta duradoura e muitas vezes desesperada contra o tédio”. De acordo com ele, o vazio interior é a principal fonte de todo o enfado, e, o remédio contra tal situação é cultivar a riqueza interior, pois a força interior nos põe inteiramente além do alcance do tédio. Por isso, “quanto mais [força interior] uma pessoa tem em si mesmo, menos precisa de fora e menos serão os outros algo para [sua felicidade]”. Assim, ao contrario da visão comum, o tédio não tem seu fim com uma vida agitada e badalada. Ficar o tempo todo envolvido com outras pessoas não é solução contra o enfado. Ou seja, a luta desenfreada para se encontrar com as outras pessoas, a ansiedade por reuniões sociais, a aflição por distrações e o pânico de ficar só como tentativa de sair do tédio, na verdade, é uma fuga de si mesmo. Pois “na solidão, onde cada qual fica entregue aos seus cuidados, mostra-se o que tem em si próprio”, e, por isso, citando Sêneca, Schopenhauer afirma: “Toda estultice tem horror de si mesmo”. Assim, para ele, os tolos e os medíocres estão mais sujeitos ao tédio, pois, eles não suportam ficar sozinhos, tentam sempre passar o tempo livre com outras pessoas e nunca utilizá-lo para cultivar o seu universo interior. O pensador alemão escreveu de forma irrefutável, “a felicidade pertence àqueles que se bastam a si próprio. Com efeito, todos os mananciais exteriores de felicidade e de prazer são, por natureza, eminentemente incertos, equívocos, fugidios, transitórios, ocasionais e, portanto, sujeitos a estancar”, afinal nada é para sempre. Por isso, a felicidade não está fora ou distante de nós, mas sempre dentro. Ela estará sempre neste universo inviolável de nossa intimidade. Assim, “em qualquer lugar, reduzidos a nós mesmos, nós é que fazemos ou encontramos a própria felicidade” dentro de nossa riqueza íntima, dentro do nosso universo inteiro.

2) A segunda base schopenhaueriana para pensar a felicidade humana é AQUILO QUE SE TEM. Em sua visão as necessidades são relativas, porém é necessário colocá-las em jogo no debate sobre a felicidade. Assim, ele inicia o terceiro capitulo do livro com dois parágrafos magníficos. Veja o que ele escreveu: “O GRANDE PROFESSOR de felicidade, Epicuro, dividiu acertada e lindamente as necessidades humanas em três classes. Primeiro, as naturais e obrigatórias: são as que, não satisfeitas, provocam dor. Por conseguinte, pertencem a essa classe somente o victus e o amictus (alimento e vestuário). São de fácil satisfação. Segundo, as naturais, sem serem obrigatórias: é a necessidade da satisfação sexual, embora Epicuro, no relato de Laércio, não o diga (assim como eu, em geral, reproduzo aqui a sua doutrina um tanto reajustada e corrigida). Essa necessidade é mais difícil de satisfazer. Terceiro, as que não são nem obrigatórias, nem naturais: as do luxo, da abastança, do fausto e do esplendor: são infinitas e é mui difícil satisfazê-las. Determinar, com relação à posse, o limite dos nossos desejos naturais, é difícil, quando não impossível. A satisfação de cada um deles não se funda em grandeza absoluta, mas relativa apenas, a saber, sobre a relação entre as aspirações e a posse, pelo que essa última, considerada em si mesma, é tão vazia de significado como o numerador de uma fração sem denominador. Uma criatura não está, de modo algum, privada dos bens que jamais lhe veio à mente desejar, pois também sem eles é completamente feliz; e uma outra, que tem cem vezes mais, é desditosa, desde que lhe falte algo que deseja. Aí também tem, cada um, um horizonte próprio, até onde vão as suas aspirações, naquilo que lhe é possível atingir. Quando um objeto qualquer, colocado dentro dele, se apresenta de modo que possa confiar em que há de alcança-lo, sente-se feliz; ao contrário, pesaroso, se dificuldades supervenientes lhe tolherem essa esperança. O que se coloca além desse horizonte não tem sobre ele ação alguma”. Assim, fica visível a relação entre o movimento satisfação e insatisfação, que está intimamente ligado a dinâmica de ser feliz ou infeliz, com as coisas que se tem, pois, mesmo quando se tem muito, se não se está satisfeito, aquilo que se tem não é garantia de felicidade. Os satisfeitos são mais felizes dos que os insatisfeitos, então, vamos viver com satisfação, porém, sem acomodação. Além do mais, “o que nos faz felizes, ou infelizes, não é o que as coisas são, objetiva e realmente, mas o que são para nós, em nossa apreensão.” Pois, como defendeu o filósofo, “o mundo é a minha representação” o mundo é vontade.

3) A terceira base de Schopenhauer para pensar a felicidade humana é definida como DAQUILO QUE SE REPRESENTA. No quarto capitulo, ele começa com uma orientação muito importante, qual seja: não devemos dar muita importância as opiniões alheias. Entretanto, o problema é que, na contramão desta orientação, damos demasiado valor as elas, e, isso parece uma mania generalizada e quase de nascença. Para Schopenhauer, os nossos cuidados com relação as opiniões alheias ultrapassam em muito toda finalidade racional. Ele escreveu: “Em tudo quando fazemos, ou deixamos de fazer, perguntamos, antes de mais nada, que é que pensam os outros; ora, examinando bem a coisa, veremos que daí provém a metade dos nossos sobressaltos e temores”. Esta mania, na verdade, nasce de nossa debilidade, fragilidade e insegurança existencial, por isso “temos sempre em conta excessiva” as opiniões alheias sobre nós. Se tivéssemos bom senso, as opiniões alheias não teriam a menor importância, e seriam em si irrelevantes para nossa felicidade ou infelicidade. Para tornar isso realidade, temos que nos imunizar tanto dos elogios mentirosos como dos comentários maldosos e levianos. Nos ensina Schopenhauer, “para nos emanciparmos dessa generalizada estultice, o único meio seria o de reconhecê-la nitidamente como tal, e, para esse fim, convencermo-nos de como são inteiramente falsas, tortuosas, enganadoras e absurdas todas as opiniões humanas, pelo que, em si, não merecem consideração alguma”. Assim, com essa ação imunizadora, podemos fugir da loucura comum o que “aumentaria incrivelmente a nossa calma interior, a nossa jovialidade, e teríamos como resultado um comportamento mais desenvolto e mais natural”. Porém, só com o tempo é que conquistamos tal postura, pois vamos percebendo que “é indiferente, em si, o que se passa na consciência alheia; aos poucos, iremos ficando indiferentes a ela, quando conhecermos bem a superficialidade e futilidade dos pensamentos, a estreiteza das ideias, a mesquinhez das intenções, a erronia dos pareceres e o sem-número de desvarios da maior parte dos indivíduos. E se aprendermos, por experiência própria, com que menosprezo falam de qualquer um, bastando que não o temam ou julguem que não virá a sabe-lo? […] Teremos de reconhecer que quem dá muito valor à opinião dos homens presta-lhes honra demasiada”. Pois, conclui o pensador, “no que toca à felicidade pessoal, que estamos examinando, a coisa é mui diferente, sendo, antes, aconselhável que se não dê valor demasiado à opinião alheia”. Para isso, é necessário “convencermos singelamente de que… vive cada qual dentro da própria pele e não nas opiniões de outrem” e que a ilusão contrária nos faz infeliz.

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