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  • cleverfernandes196

A ARTE DE VIVER: AMOR E VIDA

A arte de viver está ligada à arte de amar, por isso, na vida somos todos artistas e, como artistas, vamos construindo nossa existência escolhendo a vida que vale a pena ser vivida. Nessa composição da vida o amor é a peça fundamental, ele não é uma explosão de um momento efêmero, e se compõe de múltiplas formas num esforço gradativo e intenso. Todas elas estão presentes na vida, e são construções sociais, pois não existe naturalmente o amor materno ou paterno, conjugal ou fraternal, é a partir de nossas escolhas que vamos aprendendo a amar como pai ou mãe, como esposo ou esposa, como amigo ou amiga. Como escreveu Erick Fromm, o amor “não é um afeto, no sentido de ser afetado por alguém, mas um esforço ativo pelo crescimento e felicidade da pessoa amada, enraizado na própria capacidade de amar que alguém tem“, nos esforçamos para ser isso ou aquilo, não nascemos programados, e, aos poucos nos tornamos pais, mães, amigos. Então amar é algo que se constrói na partilha de momentos banais do cotidiano, na compreensão, na aceitação dos limites e defeitos do outro, no diálogo aberto, livre e franco, e na capacidade de caminhar juntos. O amor acontece na convivência real ou virtual, no conhecimento e na consolidação da proximidade afetiva. Ninguém ama o desconhecido, o amor exige o conhecimento e nesse processo do mútuo conhecimento a relação vai se consolidando, como ensinou Fromm, “o amor genuíno é uma expressão de produtividade e implica cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento“. Assim, como a arte potencializa a vida, alimentando a vontade de viver, o amor é o facilitador para atravessarmos os dias áridos da vida, pois a vida é um grande deserto e o amor são os oásis, desta forma, podemos dizer que a dinâmica da vida acontece entre desertos e oásis, na oscilação entre as alegrias e as tristezas, pois, na visão de Espinosa, a alegria é a passagem de uma realidade menor para uma maior e a tristeza, ao contrário, a passagem de uma realidade maior para uma menor. Neste sentido, a tristeza nos limita e diminui nossa potencia de existir, enquanto, a alegria aumenta a potência de agir e, por isso, temos força e disposição para ajudar os outros e, ao mesmo tempo, nos doar ainda mais para os outros. A doação ao outro é uma experiência de alegria, não existe relacionamento de amor sem doar-se, seja, a doação dos pais para os filhos, da esposa para o esposo (e vice-versa), do amigo para o outro. Mas a doação, que estamos falando, “não é a das coisas materiais, mas está no reino especificamente humano […] Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá de sua vida.” Nos vitalizamos quando oferecemos ao outro o que temos de melhor, e não pensamos em receber algo em troca. Quando alguém faz algo esperando retorno não está numa relação amorosa, mas, sim, numa relação comercial. Amor não é troca, quando alguém supostamente “ama” esperando receber algo em troca está numa relação de prostituição. O doar a vida, dedicando seu tempo ao outro, oferecendo a atenção e o carinho, só acontecerá na alegria, pois, quem se doa, só faz isso porque está repleto de vida, uma vez que “dar é mais alegre do que receber, não por ser uma privação, mas porque, no ato de dar, encontra-se a expressão de minha vitalidade” (Fromm). Além do mais, quando nos doamos, o amor nos transforma e nos tornamos pessoas melhores. Por isso, mesmo quando a tristeza chega nosso amor sobrevive, pois o amor não tem fim nessa oscilação dos ânimos, o amor é mais forte do que a morte, caso não vença os momentos tristes não é amor. A vida não tem sentido sem o amor, ele é a ideia mais revolucionária de toda história humana. Mas, uma ideia frágil, pois, o amor não se impõe. Como bem escreveu o poeta Luís de Camões: o amor “É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade“. Todavia, essa fragilidade do amor é sua fortaleza, pois sendo ele sempre tolerante, compreensivo, respeitoso, consegue transformar o animal homem em um ser dócil e sociável, sem o amor a vida em sociedade é impossível. Por isso, a arte de viver prende-se a arte de amar. Amor e vida estão visceralmente conectados.

Referência:

FROMM, Erick. A arte de amar.

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