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  • cleverfernandes196

O RISCO DE VIVER: PESSOAS E ESCOLHAS

Atualizado: 17 de fev. de 2021

O nietzschiano André Gide, em sua obra Os Frutos da Terra, escreveu que a recordação do passado só tinha sobre ele a força necessária para dar unidade a sua vida, assim, assumindo esta ideia, o passado tem uma função específica dar uma unidade a vida, ou seja, dar uma identidade na diferença, pois, temos consciência de nossa identidade pessoal, mas, também, ao mesmo tempo, somos diferentes daquilo que fomos no passado. Então, o passado não tem a função de ser parâmetro e nem pôde condicionar nossas ações presente. Ele é apenas uma referência identitária, não algo para ser repetido como rito sagrado. E, mesmo desejando ou querendo muito, não podemos e nem temos como repetir um único instante vivido. A todo o momento estamos sempre diante de um presente único e singular. Esta novidade cotidiana, não pode gerar medo. Temos que aceitar, que a vida flui como as águas nos rios, e também precisamos reconhecer que as pessoas [irmãos, amigos, filhos, pais, etc], em nossas vidas, são como pássaros que pousam em nossos ombros… Eles chegam a um determinado tempo e a qualquer momento podem voar para ver outras paisagens, e, por isso, temos que aprender que eles não são nossas propriedades. Todos os pássaros vão voar, pois todas as companhias em nossas vidas são temporárias. É múltiplo os fatores que fazem as pessoas voarem, mas, isso não significa que este distanciamento é o fim de tudo. Como já disse, em uma postagem anterior, a proximidade afetiva não esta ligada necessariamente à proximidade física. Mas, a questão é que, ninguém é para sempre em nossas vidas, não adianta tentar prendê-las, um dia elas vão partir ou vão morrer, só você é eterno com você mesmo. Assim, é necessário ser uma boa companhia para si mesmo e aproveitar a presença destes pássaros nômades em nossas vidas, pelo tempo que eles permaneceram livremente em nossos ombros, depois, teremos boas recordações da suavidade de seu canto, que não sai de nosso ouvido; da beleza de sua plumagem, que ainda enchem nossos olhos de alegria; do frescor inebriante do seu perfume, que não deixa nosso nariz; e da leveza de sua presença, que não abandona nosso coração. É evidente que, para muitos, esta possibilidade é assustadora. A simples possibilidade do voo do pássaro produz terríveis vertigens, e, assim, num ato de desatino, constroem gaiolas e aprisionam o pássaro, acreditando que agora o pássaro não vai abandoná-lo… Ledo engano. Esta atitude gera na verdade uma falsa segurança, pois a gaiola não eterniza o pássaro. Além de não resolver a questão do abandono, com o tempo de prisão o pássaro não vai mais cantar como antes, sua plumagem perderá o brilho… Temos que aceitar, não existe relação eterna, não existe segurança na vida humana. Gaiolas não gera segurança. Nossa existência é repleta de surpresa, pois, a cada instante estamos frente a estranhas possibilidades. A vida acontece em caminhos incertos, por isso, temos que manter a atenção e o cuidado a todo instante, pois, os perigos estão a toda parte. A incerteza dos caminhos que precisamos tomar nos atormenta durante toda a vida, uma vez que não existem caminhos antes de caminharmos, estamos sempre vivendo o novo. Nossas escolhas produzem os caminhos, pois, como já disse, “o caminho só existe quando você passa”, e, ninguém tem certeza se esta foi a melhor escolha, temos apenas esperança. Qual a vida que merece ser vivida? Qual o melhor caminho para a vida? Quando escolhemos uma vida, um caminho, acreditamos que estamos acertando, mas a vida é sempre uma caixa de surpresa, ela é sempre novidade. As escolhas aparentemente boas podem se revelar o oposto daquilo que esperávamos, mas, não sou tão radical como, o poeta Eurípedes que acreditava que “é o inesperado que chega, jamais o que esperamos”. Apesar desta surpresa da e na vida, a certeza que temos é que a vida é escolha, e, cada uma é como passo do bêbado equilibrista na corda bamba; não temos garantias, apenas temos que continuar caminhando, escolhendo isso ou aquilo, se relacionando com esta ou aquela pessoa. A vida é a arte de equilibrar-se em uma corda estendida entre o nosso nascimento e nossa morte, e equilibrar é sempre um risco, pois, não existe vida sem risco, temos e vamos correr os riscos de cair, já que não podemos paralisar o fluir da vida, vamos viver escolhendo a vida que achamos que merece ser vivida, sem medo de ser feliz.


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