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  • cleverfernandes196

VIDA EM GRUPO

Nascemos e vivemos o tempo todo em grupos, isso é uma constatação óbvia, pois somos animais gregários, e a família ou algo similar é onde apreendemos os primeiros passos e recebemos os primeiros códigos da nossa espécie. Nesse espaço iniciamos o processo de hominização. Depois na dinâmica da vida participamos e compartilhamos a nossa vida em outros grupos reais e virtuais: o de colegas da escola, da igreja, da rua, do condomínio, do trabalho, de estudo, da pratica esportiva, da balada, do WhatsApp, do Facebook, etc. A vida acontece sempre em grupo, mesmos quando estamos sozinhos somos acompanhados pelos grupos que pertencemos. Somos uma singularidade na multiplicidade, somos uma multidão. Não é possível se isolar, não somos uma ilha, e nem vivemos em uma ilha como um Robson Crusoé. A solidão não é uma realidade possível, mas quando nos sentimos abandonados ou excluídos somos afetados por uma profunda tristeza, pois a solidão nos entristece muito, mas isso não elimina a multidão que somos. Parece um paradoxo: não conseguimos nos isolar, mas, essa impossibilidade do isolamento, não elimina a condição de orfandade da vida humana, nascemos sozinhos e ao longo da vida temos que definir nossa vida, a trama da existência se dá a partir das escolhas pessoais. Por isso, não podemos confundir as coisas, o fato de vivemos sempre em grupo não significa que a vida não tem seu lado pessoal, individual e solitário. Na verdade temos que decidir e responder por todas as nossas escolhas da e na vida, e isso sempre será um ato pessoal e solitário, pois não é o grupo que define o nosso viver. Essa situação gera certo desconforto e, ao mesmo tempo, conflito, o conflito entre a vontade pessoal e a decisão grupal. Mesmos gostando muito do grupo, dificilmente entregamos nossa existência em suas mãos, nem mesmo o da família, grupo que pertencemos por nascimento não por escolha. A solução é simples, mas não significa fácil. Como vivemos apenas nossa vida, única e exclusiva, não podemos abdicar de definir os rumos dela, assim a saída é ter coragem para decidir apesar da pressão do grupo. Sabemos que a indefinição gera angústia, dor e aflição por isso é preciso dar uma solução a situação vivida e, com certeza, com o tempo a dor será substituída pela tranquilidade, paz e alegria. Mas isso é vivido com mais intensidade neste primeiro grupo de nossa vida, pois, o conflito nos outros grupos não é tão intenso quanto o do grupo familiar, e é simples compreender isso, pois não escolhemos nossas famílias, enquanto que os outros grupos que pertencemos apenas ficamos neles enquanto desejamos, e ficamos neles apenas enquanto nos afeta de alegria. Apesar de não termos controle sobre quase nada em nossa vida, a partir dos encontros que temos na vida vamos escolhendo boa parte das pessoas que queremos nos relacionar. Nos espaços sociais não nos relacionamos com todos. No trabalho, na universidade ou escola, na igreja, no condomínio temos as pessoas próximas, temos os companheiros e assim montamos nosso time, e isso é fundamental, pois, como escreveu Giles Deleuze: “ser do mesmo time é também rir das mesmas coisas, ou então calar-se, não precisar explicar-se. É tão agradável não ter que se explicar”. Quando você vive em um grupo que é o seu grupo, a sua equipe, o seu time, não é necessário ficar justificando suas ações. A harmonia entre as partes fazem funcionar a vida. Quando um grupo de jogadores de futebol está bem entrosado ele torna-se de verdade um time. As jogadas fluem com uma naturalidade incrível, um jogador pode olhar para um lado e tocar a bola para o lado oposto e seu companheiro vai correr para o lado correto, o passe será prefeito. Eles se conhecem, estão funcionando como equipe, não é necessário um rio de explicação. A vida em grupo é sempre boa quando o grupo torna-se um time. Desta forma, a vida mostra sua leveza… A leveza da vida está na aceitação, e essa se revela quando não temos que explicar nossas ações, somos simplesmente aceitos pelo grupo. Mesmos as atividades estressantes quando realizadas por um grupo que atua como um time é agradável. Deleuze escreveu que “as belas aulas se parecem mais a um concerto que a um sermão, é um solo que os outros acompanham”, e, de fato, ele tem razão, quando o professor e os alunos formam um time, a aula flui leve e agradável como uma orquestra, é um time funcionando na dinâmica do aprender e ensinar, porém quando não existe esta sintonia a aula torna-se algo pesado e insuportável como os sermões sem fim. Isso é válido para todas as outras atividades humanas. Um grupo quando vira time funciona, caso contrário é um desastre.

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