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  • cleverfernandes196

O ANTAGONISMO DAS FORÇAS 

O ANTAGONISMO DAS FORÇAS É O GRANDE INSTRUMENTO DA CULTURA


O antagonismo das forças é o grande instrumento da cultura. Pastel s/ Canson, 30x42cm. Nertan Silva-Maia, 2019.

O pensamento é fruto da violência, não se pensa por uma questão natural, nós não pensamos porque somos dotado de um órgão pensante e nem somos máquinas pensantes, pensamos apenas quando somos provocados por um signo. E podemos afirmar que o desenho do Nertan Silva-Maia é um tipo de intercessor, que nos violenta e nos faz pensar. É um signo provocador, pois a arte existe para afligir. Arte que não aflige não é arte. Ela é um instrumento na luta e está sempre provocando o poder. Como nos ensinou Foucault: onde há poder sempre haverá resistência, assim a arte é resistência ao poder constituído. Por isso, quando estamos diante de uma obra de arte não é possível ficarmos indiferentes. Naquele instante singular, entramos num tipo de experiência do pensamento. Forças em luta, em movimento, provocando um turbilhão de pensamentos e sentimentos. O título da sua ilustração é muito sugestivo, e pode ser considerado, uma tese: O ANTAGONISMO DAS FORÇAS É O GRANDE INSTRUMENTO DA CULTURA. Nertan mostra e nos faz reconhecer que a cultura deve ser compreendida como uma luta de forças antagônicas e, ao mesmo tempo, esse antagonismo das forças são instrumentos na e da produção cultural. Nessa dinâmica, pois não existe antagonismo estático, o artista nos lembra que não existe cultura homogênea, pura, uniforme, lisa. Em sua ilustração, Silva-Maia brinca com uma explosão de cores, traços zigzaguantes, para dar sequência em sua tese. Cultura é plural. Nessa brincadeira com as cores e traços ele produziu duas zonas distintas e diferentes em sua forma e cores numa luta frenética. Porém, longe do dualismo binário, simplista e raso, Nertan revela a pluralidade heterogênea da realidade. Diferença, diversidade, são as marcas nas multiplicidades das cores vivas da gravura. São as forças em luta antagônicas buscando ampliar seus espaços do mundo sócio-cultural. A luta pela hegemonia. Para expressar essa luta, é visível a violência nos traços do desenho, o artista no seu ofício de produtor de pensamento usa de todos os recursos. Linhas, cores, a mistura de cores em tonalidades diferentes, as formas e os traçados produzem os efeitos desejados para expressar um pensamento sobre a sociedade. Neste desenho, Nertan expressou com toda a sensibilidade dos artistas sua percepção sobre o momento turbulento de nossa cultura. O Brasil e suas forças antagônicas em luta, em disputa. Não tem como não perceber, pulsa no desenho essa situação vivida nos último anos. Sem duvida, estamos vivendo um antagonismo inconciliável entre essas forças em luta, isso é uma característica fundamental de nossa cultura política. Presenciamos a dilatação da fissura social, ela tornou-se abissal. As forças em disputas não são conciliáveis. Estamos vivendo nessa luta de forças antagônicas uma tensão gerada, ou na verdade alimentada, principalmente por uma moralidade obsessiva, paranóica, estão tentando universalizar o particular, uma experiência de fé religiosa individual quer se impor a preço da exclusão das minorias que não aceitam ser tingida com as cores dessa maioria. Assim temos uma tensão no ar, predominando a desconfiança de todos contra todos. Numa cegueira da realidade, que está dissipando a objetividade. A verdade fruto da convicção e não a partir dos fatos e dos dados da realidade. A sensação é que existem pessoas que querem o mundo em preto e branco, parecem temer o arco íris. A pluralidade das cores, o cosmos tem um espectro enorme de cores para além do binarismo preto e branco. Apesar da cegueira, o mundo é multicolorido e a Terra não é plana. Entretanto, tenho certeza que, não podemos limitar ou reduzir o desenho a mera manifestação da vertigem e embriaguez dos nossos acontecimentos recentes. Todavia, salta aos olhos essa luta entre grupos de nossa cultura em ação tentando se impor, sufocando os diferentes. Um pouco de possível se não sufoco, o apelo de maio de 1968 volta numa expressão gráfica muito interessante. Parabéns meu nobre e estimado amigo, obrigado por compartilhar essa obra de arte.

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